Crise no Fies abre brecha para financiamento estudantil privado
Empresa de financiamento estudantil privada Ideal Invest é cada vez mais popular entre pessoas de baixa renda que desejam cursar o ensino superior
Em tempos de recessão econômica, investir em financiamento estudantil não parece uma estratégia arriscada para uma empresa. Mas não para a Ideal Invest, empresa brasileira privada de financiamento estudantil que afirma ser a maior do setor.
A estagnação que aflige a maior economia da América Latina tem sido bastante vantajosa para a empresa. Isso porque a crise tem neutralizado seu maior rival no setor, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (Fies), programa de financiamento estudantil do governo.
Afetado pelas rígidas medidas de contenção de gastos do ajuste fiscal, o programa tornou-se mais limitado, fazendo a Ideal Invest se tornar mais atraente aos estudantes. “Essas mudanças têm sido muito boas para nós”, disse o diretor financeiro da Ideal Invest, Gabriel Haddad, em entrevista ao Financial Times.
A Ideal Invest foi fundada em 2001, por Oliver Mizne, um jovem empresário que tem com objetivo usar o mercado financeiro para aumentar o acesso à educação no Brasil entre a população de baixa renda.
A empreitada de Mizne teve como incentivo a abertura do ensino superior brasileiro ao setor privado, ocorrida em 1998. A medida levou à proliferação de instituições de ensino superior privadas, que atendem, em grande parte, estudantes de classe média baixa. Com isso, o número de estudantes cursando o ensino superior no Brasil dobrou para 7 milhões.
Para estimular ainda mais esse aumento, em 1999, o governo Fernando Henrique Cardoso lançou Fies, que foi estendido durante o governo Lula. Até o final do ano passado, o Fies oferecia termos vantajosos, com juros baixos e acesso quase irrestrito. Os tempos de bonança do programa renderam bons frutos às instituições de ensino superior privadas, que viram o número de estudantes matriculados saltar para quase 732 mil entre 2010 e 2014, um aumento de quase dez vezes.
No entanto, segundo o relatório “A Pátria Educadora ainda tem muito mais a aprender mais”, lançado no início deste ano pelo Credit Suisse, o Fies se tornou vítima de seu próprio esquema. Isso porque o programa oferecia condições bastante atraentes, tornando os estudantes insensíveis aos preços. Não importa o quanto o valor era reajustado, eles estavam dispostos a pagar.
Com isso, as instituições privadas aproveitaram para alavancar o número de alunos e aumentar sua margem de lucro. Agora, em meio à recessão, cerca de 30% dos alunos matriculados no setor privado entraram via Fies. Por conta disso, as condições oferecidas pelo Fies estão sendo revisadas.
Aproveitando essa brecha, a Ideal Invest assinou parceria com cerca de 200 instituições de ensino e, desde 2006, já incluiu em seu programa de financiamento mais de 50 mil alunos.
A empresa oferece financiamento a estudantes que não foram aprovados na seleção do Fies, por conta da universidade ou curso escolhido. Ela oferece termos bem mais atraentes do que o Fies, como menor tempo de pagamento. Para entrar no programa, o estudante deve assinar um contrato que exige um consignatário, geralmente um familiar. O aluno começa pagando metade da mensalidade, com os juros pagos pela instituição de ensino.
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