Fonte: Band.com e Jornal da Band
A estratégia é simples: dispensar a internação de pacientes idosos ou com doenças graves, aceitando no lugar deles os mais jovens e saudáveis. Com essa receita o hospital Santa Marcelina, no Itaim Paulista, zona Leste da capital, manteve um esquema de corrupção que desviava recursos do SUS (Sistema Único de Saúde).
O objetivo era ocupar os leitos por apenas um dia e atingir metas com o maior número de internações. Quem está por trás deste escândalo é uma empresa contratada pelo hospital, chamada Dias e Dias medical, de propriedade do médico e gestor de saúde pública José Carlos Dias Pereira. O médico, que era responsável pela contratação de vários profissionais, determinava quem podia e quem não podia ser atendido.
As ordens eram dadas via WhatsApp e, nas mensagens, os médicos eram comunicados sobre quantas internações cada um deveria fazer e quem poderia ser internado. Em uma mensagem de celular, ele destacou o que era preciso fazer: instruiu que seriam doze internações por dia, seis para cada médico do Fluxo Verde. A cor determina a gravidade do estado do paciente e o verde significa risco zero.
Em outra mensagem, Dias Pereira alertou para o perfil das internações: “Os pacientes devem ser: jovens, hígidos, com diagnóstico simples e precisos, para podermos dar alta com segurança! Evitem pacientes idosos, com ICC, pneumonia e múltiplas comorbidades”, escreveu.
Reportagem exclusiva do Jornal da Band mostrou que os pacientes do chamado Fluxo Verde não chegavam nem a passar por exames. Os médicos que trabalham de forma terceirizada atuam justamente no pronto-socorro e triagem de alguns andares.
O caso foi parar no Conselho Regional de Medicina e no Mistério Público, já que um agravante é que hospital Santa Marcelina Itaim recebe verbas do SUS, através da Secretaria Estadual de Saúde. O Conselho Regional de Medicina de São Paulo (CRM-SP) abriu sindicância para investigar a denúncia e averiguar se houve participação do hospital no esquema.
O hospital confirma que existem metas a serem cumpridas junto à Secretaria Estadual de Saúde, mas nega ter orientado médicos a selecionar internações.
A Promotoria Pública promete agir com a ajuda do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado).
Por meio de nota, a Secretaria de Saúde disse que já solicitou a apuração imediata dos fatos e determinou o rompimento do contrato do hospital com a Dias & Dias Medical, além de ordenar a contratação de outra empresa, sem a interrupção do atendimento aos pacientes.
Mais problemas
O Hospital Santa Marcelina atua como Organização Social de Saúde (OSS) em diversas Unidades Básicas de Saúde (UBS) e postos da Assistência Médica Ambulatorial (AMA) de São Paulo. E no último dia 5/12, foi notícia ao deixar 7,5 mil funcionários sem receber.
A empresa alega que a Secretaria Municipal de Saúde atrasou o repasse de verbas, o que impossibilitou o pagamento dos funcionários. A pasta teria deixado de repassar aproximadamente R$ 19 milhões.
No dia 5, funcionários receberam um comunicado da diretoria da OSS informando que a entidade estava “aguardando o repasse de recursos provenientes da prestação de serviços”. O comunicado informava ainda que a entidade estava em negociação com a pasta para normalizar a situação. O pagamento da primeira parcela do 13.º foi efetuado.
A OSS administra 112 equipamentos de Atenção Básica de Saúde na zona leste da capital, além do Hospital Cidade Tiradentes. Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informou que o atraso foi causado por “acertos administrativos” e o depósito seria feito naesta segunda-feira (8/12). “A pasta vem dialogando com a organização social para evitar transtornos aos profissionais e pacientes”.
Situações como essa mostram o quanto as OSS são nocivas. Num só dia, uma mesma entidade se envolve em irregularidades ligadas à má administração do dinheiro público, precarização das condições de trabalho e à fraude do sistema de público de saúde. Um ataque triplo ao SUS, aos direitos da população e aos trabalhadores da saúde!