domingo, 31 de agosto de 2014

Por que o Bastão de Esculápio é o símbolo da medicina?




Todas as profissões buscaram em antigos Deuses e mitologias a simbologia para a sua prática. Na medicina não foi diferente, mas há alguma peculiaridade.

No nosso caso, constantemente encontramos dois símbolos diferentes que, devido a distintas histórias, tem seu porquê para representar a profissão médica. Afirmo de antemão que apenas um é o correto, mas antes sinto-me obrigado a contar a história do Caduceu de Hermes, do Bastão de Esculápio / Asclépio.

Antes que alguém já suba no palanque para esbravejar que apenas o Bastão de Esculápio é o verdadeiro símbolo da medicina, sinto-me no dever de explicar os detalhes que elevaram o Caduceu de Mercúrio (para os romanos e Hermes para os Gregos) a símbolo da medicina em alguns países e organizações. Primeiro comecemos pela história de Esculápio.
Asclépio e seu cajado

Quem foi Asclépio?

Asclépio foi provavelmente a pessoa de maior destaque que praticava medicina na Grécia, por volta de 1200 anos antes de Cristo (está descrito na "Ilíada" de Homero). Eventualmente, através do mito e das lendas ele se tornou adorado pelos gregos como o Deus da Cura.
As escolas médicas da época desenvolveram-se e normalmente eram conectadas a templos chamados de Asclépia/Asclépion. Esses lugares foram muito importantes na sociedade grega. Enfermos acreditavam que poderiam ser curados se dormissem nos Asclépion. Faziam visitas, ofereciam sacrifícios ao Deus e eram tratados por sacerdotes que curavam (chamados de Asclepidae). A adoração por Asclépio espalhou-se para Roma e continuou até o século VI depois de cristo.


Os Aclepidae eram uma ordem de sacerdotes/médicos que controlavam os segredos sagrados da cura, que eram passados de pai para filho. As inicentes Cobras de Esculápio eram mantidas nos templos/hospitais pelos gregos e posteriormente pelos romanos. Estas cobras foram achadas na posteridade não apenas nas regiões nativas, mas também em vários lugares como na Alemanha, Áustria e sul da Europa, onde alguns templos foram erguidos. Elas escaparam e reproduziram-se.


Lisa, brilhante e esbelta, a cobra tem um uniforme marrom com uma faixa de cor mais escura atrás dos olhos. A barriga da cobra é amarelada ou esbranquiçada e tem escalas sulcadas que travam facilmente em superfícies ásperas, tornando-se especialmente adaptados para subir em árvores.


Zamenis longissimus ou Elaphe longissima - Nomes científicos da cobra do Bastão de Esculápio

O Mito:

Asclépio é o Deus da Cura. Ele é filho de Apolo e da ninfa Coronis. Enquanto grávida de Asclépio, Coronis secretamente traiu apolo com um amante mortal. Quando Apolo descobriu, ele enviou Artemis para matá-la. Enquanto Coronis queimava na pira de seu funeral, Apolo teve pena e resgatou a criança não nascida do cadáver. Asclépio foi ensinado sobre medicina e a arte da cura pelo sábio centauro Cheiron ( Quírion ), e ficou tão bom nisso que conseguiu trazer um de seus pacientes de volta dos mortos. Zeus sentiu que a imortalidade dos Deuses estava ameaçada, e matou o curandeiro com um raio. Sob pedido de Apolo, Asclépio foi habitar a constelação de Ophiuchus, a portadora da serpente.

Meditrine, Hygeia e Panaceia

A filhas de Asclépio são Meditrina, Hygeia e Panaceia, que também são símbolos da medicina, Higiene e Cura ( litearalmente todas "saúde"), respectivamente. Dois dos filhos de Asclépio aparecem na "Iliada" de Homero como médicos do exército grego ( Machaon e Podalirius

Perceba agora que no juramento de Hipócrates é jurado "Por Apolo, o médico, Por Esculápio, Hygeia e Panacea..."

A provável origem do ícone da única serpente enrolada em uma barra de madeira:

Na antiguidade, as infecções decorrentes de vermes parasitas eram muito comuns. A filária ( Dracunculus medinendis ) percorre o corpo da vítima logo abaixo da pele. Médicos tratavam essas infecções fazendo uma pequena incisão na pele em cima do "caminho" do parasita. Quando o verme emerge pela incisão, médicos cuidadosamente enrolam-na em um palito para aos poucos retira-la totalmente. Acredita-se que devida a ordinariedade deste tipo de infecção que médicos começaram a usar isto como ícone de sua profissão.

A barra como símbolo médico:

Durante os séculos XVI e XVII o cajado de Asclépio e o Caduceu de Hermes foram amplamente impressos em diversas farmacopeias. Depois de algum tempo, o cajado com uma serpente tornou-se símbolo único da medicina.

Apesar de ser inequívoco o uso do cajado de Asclépio como representante da medicina, o Caduceu ( uma barra com duas cobras enrolados em dupla hélice e duas asas no topo) é muito popular nos Estados Unidos para representar a medicina, provavelmente devido a confusão entre as duas representações. Muitos norte-americanos usam a palavra Caduceu para referir-se ao Símbolo da Medicina.

Veja estas imagens que utilizam o Bastão de esculápio como símbolo da medicina:


Pintura que mostra Esculápio e seu bastão


Logo da Associação Médica Mundial


Logo da Organização Mundial de Saúde


Logo da Associação Médica Brasileira

Fonte:Fernando Carbonieri
Médico formado em 2013 pela Faculdade Evangélica do Paraná. Idealizador e Diretor do portal Academia Médica.

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